PADRE FERREIRINHA, O MISSIONÁRIO DOS NECESSITADOS
Escrevi este texto há mais de 6 anos, no sentido de homenagear o padre Ferreirinha logo depois do seu aniversário de 86 anos. A sua labuta, a sua caminhada de doação me fez procurá-lo para uma entrevista. Pedi para minha comadre Valdênia, combinar um horário com ele e, ficou acertado.
Vamos relembrar esta história de vida tão edificante.
Padre Ferreirinha, o missionário dos necessitados
Quarta-feira, dia 5 de março, início da Quaresma. Tempo de
mudança, de reflexão, de renovação. Este ano o tema da Campanha da Fraternidade
é “Fraternidade e Tráfico Humano”. Todo projeto de Deus tem um fundamento, uma
mensagem, uma lição. Vejam o que lhes preparei para esta semana, uma história
de doação, de humildade e de solidariedade. Ah! Gente de Deus é uma história
verdadeira de um padre da Ordem Salesiana, que dedica todo o seu tempo livre
para ajudar aos necessitados. O qualifico de benfeitor dos carentes, dos pobres
e humilhados. Trata-se de padre Ferreirinha. Descobri o trabalho que desenvolve
através de um amigo, seu Franciel, Ministro da Eucaristia da Paróquia do
Sagrado Coração de Jesus e participante e colaborador do projeto do padre. O
trabalho é muito simples, recolher lixos em ruas, praças, restaurantes
etc.
Padre Ferreirinha é alagoano, nasceu em Mata Grande no ano de
1928. Veio com seus pais residir em Juazeiro com apenas 8 anos. Antônio
Ferreira Lima, seu pai, trabalhava em agricultura. Sua mãe, Maria José da
Conceição Ferreira, cuidava da prole numerosa, 10 filhos; 7 mulheres e 3
homens; vivos hoje, ele e 2 irmãs. Uma irmã é freira da Ordem Salesiana e a
outra, casada, reside em Crato, Ceará. Tornou-se padre em 1961, na Paróquia de
Nossa Senhora Auxiliadora em São Paulo. Cursou durante 4 anos a Escola
Santorium, escola de música sacra participando também do coral. Aprendeu Latim
e fala fluentemente.
Passou na Amazônia 40 anos em plena selva, fazendo parte de
missão salesiana. Nesse tempo ajudou a construir várias igrejas, e exerceu
principalmente o papel de catequizar e evangelizar tribos indígenas. Nessa
convivência aprendeu a falar vários dialetos. Como gosta de desafios, aprovou e
adotou a ideia da Campanha da Fraternidade de 2011, “Fraternidade e a Vida no
Planeta”. Segundo padre Ferreirinha numa conversa com Franciel, como ele se
expressa, ele disse: “Padre Ferreirinha vamos ajudar a limpar essa cidade
recolhendo garrafas, copos, latinhas que entopem os bueiros, esgotos e também
enfeiam o lugar. E mais uma coisa, se ganha algum dinheiro vendendo o produto
recolhido!” Respondi para Franciel: “O que vamos fazer com o dinheiro?”. O
senhor pensa, disse Franciel. A solução encontrada logo me veio que era
distribuir com os necessitados do bairro Triângulo, alimentação comprada com o
dinheiro arrecadado. Esse bairro é bem conhecido por mim, pois estou lá com
frequência para visitar um cunhado (viúvo de uma irmã) e que casou com outra
pessoa, e essa me cativou. É muito distinta e destemida, enfrenta qualquer
dificuldade, adotei-a como minha irmã. Nessas visitas descobri que este bairro
é muito carente, tem muita pobreza, então, resolvi ajudar aos necessitados. A
casa deles serve de ponto de apoio e distribuição. As pessoas são cadastradas e
têm o dia determinado para receber os donativos, pão, arroz, feijão, pedaços de
ossos para fazer caldo, farinha de milho etc.
Para desenvolver este assunto primeiro tive uma conversa com
ele, após a celebração da Santa Eucaristia, a respeito do trabalho que desenvolve
junto aos pobres. Perguntei se ele permitia que abordasse este assunto. A
resposta dada por ele de imediato foi “Não é coisa de bem?” Respondi: “É padre
Ferreirinha”. “Pode sim”. A dificuldade foi marcar um horário. Ele muito
apressado com a veste sacramental e a estola no braço, saiu rápido em direção
ao Colégio. Como já fazia algum tempo que desejava falar sobre ele em minha
Coluna, procurei a ajuda de duas pessoas amigas, seu Franciel, para me trazer
algumas informações sobre ele, e de Valdênia, para marcar um horário para que o
entrevistasse no seu local de trabalho.
Esta conversa com padre Ferreirinha aconteceu dia 5,
quarta-feira de Cinzas, em sua roça, localizada no terreno do Colégio Salesiano
São João Bosco, após a quadra do Colégio. Num recanto bem simples onde ele
improvisou duas pequenas tendas cobertas com lona para acomodar o material
recebido e que uma boa parte ele transporta nos ombros e nas costas. Imaginem,
leitores, a força de vontade e o peso dos seus 86 anos não o impedem de praticar
o bem, de favorecer a pobreza. Na recepção do Colégio, me identifiquei para
Marcelo, o recepcionista e ele muito solícito me levou ao encontro de padre
Ferreirinha. O sol forte inundava o local de muito calor e luz. Ao
encontrá-lo cumprimentei-o e falei: “Sou Neuma, a pessoa que Valdênia combinou
o horário para conversar com o senhor”. Vestido modestamente, na cabeça um
chapéu de palha e com óculos escuros para proteger-se da claridade, pois fez
recentemente uma cirurgia de catarata, me recebeu, dizendo: “A senhora queria
me ver aqui trabalhando, pois bem, aqui me sinto feliz, fazendo o que gosto que
é cuidar de roça, de plantar milho, feijão, mandioca, jerimum, melancia.
Plantei acerola, já colhi muita, ultimamente tem um bichinho fedorento que está
comendo a frutinha e não dá para aproveitar”. O seu jeito de se dirigir a mim,
foi muito interessante” “Olhe dona, aqui a flor do jerimum está aberta, mas um
agricultor bem entendido me explicou que esta flor bonita, não é a que produz o
legume, esta é macho a que fecunda é a fêmea é a flor mais acanhada”.
Caminhava, parava e me mostrava os detalhes. “Este milho não tive trabalho com
ele, as sementes caíram da espiga e nasceram. Cresce rápido e produz logo, é
milho Ibra. O feijão também não plantei, germinou e fiquei contente. A fava não
quero plantar mais rama demais e toma todo o espaço. Aqui, dona, é uma
bananeira que trouxe de Recife, é banana Vinho, venho cuidando com
perseverança, estava quase morta e olhe como está bonita, viçosa. Estes pés de
pinha já deram boas frutas, tem um besourinho perigoso que faz a fruta
apodrecer antes de completar o tempo de colher. Veja aqui, dona, neste local a
planta faz muita sombra e nada vai pra frente, só mato e é onde a formiga mata
a vontade, criando os formigueiros, é o reinado delas. Já colhi muito limão
destes dois limoeiros, veja como o chão está forrado deles. Tem um senhor que
me ajuda aqui, seu Raimundo, quando viajo. O ano passado passei três meses na
região Norte, no local que dediquei quarenta anos de vida sacerdotal para me
encontrar com amigos e paroquianos. Presenteei o Colégio Salesiano de
Nossa Senhora Auxiliadora com a minha sanfona de 80 baixos, gosto de tocar, e
lá estava faltando uma sala de música por não ter nenhum instrumento musical,
então ofereci o meu para incentivar outras pessoas para fazer o mesmo e assim
levar os jovens para se dedicar à música”.
Perguntei então para ele: “Como o senhor consegue este
material?” Respondeu: “Algumas pessoas me ajudam recolhendo e trazem até aqui.
Outros eu mesmo recolho ou quando não dá pego um mototaxi. Este material já
estou apinhando para facilitar a venda, separo garrafas, latas de leite,
latinhas de cerveja e refrigerantes, vasilhames de veneno spray (eles pesam
mais porque é de ferro)”.
E o papelão, como o senhor transporta, perguntei. “Dona,
empilho num feixe, amarro e coloco nos ombros”, e mostrou como fazia. “E não
dói seus ombros com o peso, indaguei”. “Não sinto nada, venho do Tiro de Guerra
até aqui no Salesiano, tiro dos ombros o fardo e me pergunto, como cheguei até
aqui e não sinto nada doer, não machuquei os ombros e nem as costas. Na verdade
dona é obra de Deus”.
Neste momento a emoção me invadiu e as lágrimas deslizaram
dos meus olhos, pois estou diante de um grande homem, pequeno na estatura, mas
imenso de coração.
Padre Ferreirinha, que Deus lhe dê muita saúde, muita saúde
mesmo para dar continuidade a este projeto tão grandioso de ajudar ao próximo
necessitado.
Uma Quaresma abençoada e rica das graças de Deus!
Que lindo 👏🏻👏🏻👏🏻
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