PITORESCA HISTÓRIA DO CUIDADOR DE UMA PRAÇA

 

           Em busca de um endereço de uma amiga, no Bairro Tiradentes, entrei na Rua Rodrião Ferreira de Souza e o que encontrei... Uma linda praça e uma igrejinha ao lado. A praça muito arborizada com mangueiras, oliveiras, canteiros de flores e uma mangueira grande ligada, regando. Procurei então, uma pessoa para pedir informações sobre o nome da praça e o nome do padroeiro da capela. Enquanto isso, fiquei me deleitando com a beleza das plantas. E nisso, vejo um cachorrinho cavando um buraco na terra. Começo a dialogar com ele. "Ei bichinho, tá cavando um buraquinho para se deitar; e ele continuou cavando. De repente, surge um senhor que saiu de uma casa em frente à praça e, me diz: "O nome dele é ser humano! Olhei para ele e comecei a rir. E lhe perguntei: "Como é essa história?" Ser humano! Ele calmamente me respondeu: "É o nome que lhe dei". Ele foi abandonado pelo dono, e vez por outra, ficava aqui na praça, muito tristinho. Então, colocava comida e água, ele foi se acostumando, e agora, ele é meu. Adotei-o, não é ser humano? E o danadinho balançava o rabinho, confirmando. Muito engraçado a cena que estava presenciando. Indaguei do senhor, por que lhe deu este nome. Ele me respondeu, que o dono tinha construído uma casa muito bonita, de 1º andar e não o quis mais. Abandonou-o. E me contou que um certo dia, estava em um barzinho próximo, e o ex-dono do cão entrou no estabelecimento e vendo-o, aproximou-se e fez um carinho na cabeça do animal e chamou-o, Doquinha, doquinha e, ele, imediatamente, afastou-se, num ato de repúdio. Ele, estranhou a maneira do animal comportar-se e, disse: "Que é isso, está me estranhando." O senhor que ficou com ele, chama-se Antônio Genival de Araújo, e, em cima da bucha, respondeu: "Ele, é um ser humano, sentiu que foi expulso do seu lar, e, agora, não quer mais conversa com você." Apreciei a história contada e, aproveitei para lhe perguntar o nome da Praça; o nome do padroeiro da Capela; se ele era funcionário da Prefeitura para cuidar da praça. O vi carregando a mangueira para outros espaços.

           A história foi um pouco longa, vejamos: Filho natural de Iguatu, mudou-se para a cidade do Crato e, foi trabalhar em uma fábrica de móveis no Bairro Muriti, quando a fábrica fechou, resolvi abrir minha própria oficina, pra consertar móveis, envernizar etc. Precisei, então, de alguns instrumentos e como não encontrei-os no Crato, vim procurar aqui, em Juazeiro. A cidade me agradou, resolvi ficar. Procurando um prédio para alugar, descobri um que dava certo demais pra mim, na Rua Alencar Peixoto, esquina com Delmiro Gouveia e, através de informações dos vizinhos, soube que o proprietário era o sr. Dario Maia Coimbra, seu Darim. Fui até sua casa, que era próxima e, falei para alugar. Ele muito educado me respondeu: "Pode ficar, não precisa pagar aluguel, vá ganhar dinheiro e, quando tiver condições, me paga. Assim aconteceu, fiquei por um bom tempo e depois saí, já pra minha casa própria.  Comprei a casa em um leilão da Caixa, coloquei no envelope um valor que eu não tinha, mas Deus, providenciou um trabalho, que me deu o suficiente e, paguei a casa. E a casa é essa que moro hoje. Quando me mudei pra aqui, tinha este terreno, (apontou para a praça) e jogavam muito lixo. Fui até à Prefeitura pedir uns tambores para colocar o lixo. E falei, para o funcionário que me atendeu, como acumulava lixo no terreno e bem em frente de minha casa. Ele me orientou, que colocasse plantas frutíferas, e enchesse de plantas, dessa maneira, as pessoas evitavam, porque não era mais um terreno baldio. E segui sua orientação. Com o tempo, a Prefeitura resolveu construir a praça e, batizou-a de José Boaventura de Souza. Perguntei pra seu Genival se ele recebia alguma coisa da Prefeitura, pelo zelo e cuidado pela praça. Ele me respondeu,  da seguinte forma: abrindo os braços e apontando: "O que recebo todos os dias dessas plantas, já me bastam. - O oxigênio, a beleza das flores, as mangas, as oliveiras. Tudo que faço pra elas, independente de pagamento, é com muito amor!". E digo mais para a senhora, que o canteiro em frente à Capela, é dedicada a Santo Expedito, são margaridas de várias cores e tamanhos. Ao finalizar a nossa conversa, falei, seu Genival posso contar sua história? Ele respondeu, pode ficar à vontade. Prometi-lhe que o mais breve possível sua história seria publicada.

           Ontem, recebi uma ligação de seu Genival, para me dizer que 5ª feira, dia 03, ficou muito chateado por atos de vandalismo na praça, e que não pretende mais continuar o seu trabalho. É uma pena! Mas, não quero me estressar ou criar inimizade. A sua conversa me doeu! O que falei, então, pra ele. "Não me diga uma coisa dessa, estou tão empolgada, escrevendo sua história, não quero acreditar que o senhor vai desistir da 'Menina dos Seus Olhos'. O tempo é o melhor remédio, e sei que vai voltar atrás de sua decisão.    














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