O RETRATO VIVO DE 2020

 


                   Divaguei, relembrei e comecei a rascunhar. Mas, rascunhar o quê? Em que minha mente trabalha? Em exercitar os pensamentos, em concatenar as ideias e criar o meu texto. Que texto? A história do ano de 2020. Relembrando. Final de 2019, festas natalinas, projetos para o novo ano. Meu coração inquieto e sofrido pela partida do meu amado, Daniel. Quanta saudade! Quanto choro! E as últimas notícias dos jornais é, que tinha surgido na China, um vírus que estava matando milhares de pessoas. Ouvia o noticiário dizer, porém, na minha cabeça jamais chegaria ao Brasil. Por quê? Porque quando surgiu o Ebola, não chegou até nós. Então, com certeza, não teríamos este mal que estava ceifando muitas vidas. Tranquila fiquei. Como não costumo assistir ou ouvir noticiários, geralmente só vemos notícias ruins, de violência, de roubo, de corrupção, que não me fazem bem e, que me deixam indignada. Então, prefiro me ausentar ou ficar totalmente alheia de tais conteúdos. Janeiro chegou e o resultado da aprovação no vestibular de minha neta, Heloísa em Arquitetura. Alegria, entusiasmo causou em toda a família. Matrícula feita, tranquilidade. Fevereiro chega, Carnaval! Povo nas ruas, desfile de escolas de sambas, e, também, período de férias, estrangeiros chegando para o nosso país. E aí chega a contaminação do corona vírus, denominado de covid-19. O que no meu imaginário não iria acontecer, aconteceu rápido. São Paulo o primeiro Estado a surgir casos de contaminados. Mortes. Hospitais começam a ficar lotados. Em outros países mortes em números assombrosos. As sirenas a buzinar nas ruas; os carros funerários lotados de mortos. O caos! O desespero. Famílias desoladas pelas perdas dos entes queridos. Material faltando nos hospitais. Programas televisivos criados com a participação de médicos renomados para orientar e esclarecer ao povo como agir. Máscaras e álcoois acabam nas farmácias. A pandemia estrangulou no mundo inteiro. Médicos e enfermeiros através dos noticiários esclarecendo dúvidas e quais os cuidados que deveríamos ter. Alerta e mais alertas dos quatro cantos do mundo. Das capitais mais distantes do nosso Estado, notícias avassaladoras de mortes. Valas abertas para sepultar os mortos aos montes. Tragédia!

                 Chega no nosso Estado, Ceará. Os hospitais começam a receber pacientes, os médicos sem noção de quais os medicamentos que deveriam ser usados. Para eles, uma doença desconhecida. Criados hospitais de campanha. Respiradores comprados para atender aos pacientes com insuficiência respiratória. Instrumentos comprados fora do Brasil. Corrupções nas compras, material super faturado. É, quando se instala em mim e nos meus familiares o pavor da contaminação. A cada dia informes trágicos. Estabeleceu-se em todo Ceará a contaminação. Cidades isoladas por barreiras. Decreto do Governador Camilo Santana, no dia 20 de março para fechar, comércio, lojas, igrejas, mercados, mini-mercados, restaurantes, bares, escolas, universidades, creches, agências bancárias, institutos de beleza, clínicas de fisioterapia, de odontologia, de musculação  etc. Tudo parou! Lembrei da música de Raul Seixas, No dia em que o mundo parou. Abertos só hospitais, supermercados e, farmácias. Quando me vi isolada, enclausurada, presa, sem poder sair, o desespero, a aflição tomaram conta de mim. Recomendações dos filhos, não saía de casa mãeinha, é perigoso! Tive que delegar pra Daniel e Luana,, as minhas compras de supermercado. Outro recado deles bem taxativo, tem que ser tudo higienizado. Ah! É coisa demais! Ora bolas, não quero nem saber disso, respondia. Tem que ser assim, se acalme! A gente faz, resposta de Luana (minha nora), não se preocupe. E como ocupar meu tempo, fiquei a me perguntar! Não gosto de ficar ociosa. Porém, o desânimo, a angústia quiseram se apossar de mim. Dobrei os joelhos diante do Cristo Crucificado e de Jesus Misericordioso e pedi: "Senhor cuida de mim e dos meus, livra-nos dessa terrível doença e me traga paz!" Foi quando dei de ombros e pensei: Não posso desanimar, não posso me acabrunhar diante deste espinho grande, tenho que me levantar, apesar da ferida. Sacudo o problema e vou dar a volta por cima, confiando no Pai. Decidi criar motivos para ajudar às pessoas que estavam em casa sem fazer nada e, investi no computador. Ensinando artesanato; receitas; escrevendo textos. No mês de maio, prestei homenagem à Nossa Mãe Maria Santíssima durante todo o mês, com imagens de vários títulos e com um altar especial. Criei um quadro com fotografias de Daniel com familiares, com amigos, com alunos, com jornalistas e com pesquisadores etc. Postei notícias do juaonline, dos blogs criados por ele. E assim os dias foram passando. Mas, a cabeça não podia parar. Vamos fazer mais alguma coisa. Fiz uma porção de máscaras , modelo que peguei da internet e, distribuí. Participava da Celebração da Santa Missa todos os dias na TV Aparecida. E a cada dia, sabendo de notícias tristes e preocupantes; o aumento do número de contaminados e dos que não conseguiram vencer o inimigo. As ruas desertas, um quadro melancólico e assustador da cidade. Consultas desmarcadas. Consultórios fechados. Atendimentos psicoterapêuticos cancelados. Uma reviravolta total no mundo. Rostos encobertos pelas máscaras nas ruas. Será verdade o que estou vendo? Não é possível que seja verdade? As pessoas mascaradas, para mim, todas desconhecidas, não dar para reconhecer. A palavra encontrada por muitos para denominar os que estávamos vivendo e, ainda continuamos, é um acontecimento surreal, atípico, que foge do real, do comum.. Comentários e mais comentários eram ditos, não acredito que estou assistindo isso. É incalculável o que o ano de 2020 trouxe para nós viventes. Gente de Deus é muita coisa para um ano só. Diante de tanta coisa ruim, duas surpresas maravilhosas recebi: A aprovação de Michel para fazer doutorado em Portugal e de sua esposa, Katiúscia, para Mestrado. Mas, ao mesmo tempo fiquei entristecida, o casal vai ter que passar dois anos longe do meu convívio e do nosso país. Chorei! Filho e nora partindo em busca de um futuro melhor, de avanços e de crescimento na profissão que abraçaram. Estanquei as lágrimas e, me fiz de forte e, agradecida por tão grande mérito dos dois. Grande conquista! E mãe, só quer o melhor para os seus filhos. Tudo bem, aceitei, e, em Portugal eles já se encontram há três meses. A vida é cheia de renúncias, é, uma realidade. Continuando o meu relato. A esperança reinava em meu coração a cada mês que atravessávamos. Estou viva e os meus! Sobrevivemos! Mas, nada de diminuir os número de casos e, mais uma vez o Governador decreta mais um mês de isolamento. Irrito-me! Até quando meu Deus? Faço a pergunto! E assim, decorreram vários meses. Aos poucos, os novos decretos permitiram que alguns setores do comércio abrissem as portas com algumas restrições. Aglomerações continuavam proibidas terminantemente. Igrejas com número reduzido de pessoas até hoje. Álcool em gel nas lojas, nos supermercados, nas igrejas, bem a vista das pessoas. Abraços, aperto de mão, nem com os familiares. Como doeu a proibição pra mim, que sou muito de carinho, de abraço, de cheiro. Pasmem, em alguns momentos a minha imaginação ficava sem acreditar no que estava acontecendo. Apesar de tanto sofrimento, essa pandemia nos trouxe uma grande dose de amadurecimento, de ensinamentos e de altruísmo. Aflorou nas pessoas a solidariedade. As famílias que se encontravam afastadas de um convívio de carinho, de amor, se aproximaram. Lições chegaram para nos dizer: O mundo é muito vulnerável. O planeta pede socorro e avisa: "Tenham cuidado, vocês estão acabando comigo!". No meio desse clima nebuloso e acinzentado, outra grande alegria que tivemos, foi da minha outra neta, Isadora, aprovada no concurso do vestibular da Unileão, para cursar Psicologia. Vitória para ela e para nós, cursando ainda o 3º Ano do Ensino Médio e, já aprovada. Esforços, estudos e o desejo de conseguir, de vencer. Documentação preparada, e a matrícula realizada. Não tem preço o sorriso cativante de conquista que saiu dos seus lábios. Além do mais um presente maravilhoso que ela recebeu de minha prima Suzana, um baú cheio de livros sobre Psicologia e, que nos deixou bastante agradecidos.  

               Não só lamentações, digo. A bússola para o navegar em mares revoltos é o guia para uma viagem tranquila e serena em busca de um horizonte carregado de energia positiva, de grandes feitos e de muitas realizações, que Deus preparou para todos nós. 

               Que os cuidados de lavar as mãos com sabão ou álcool gel, continuem, o uso de máscara não seja relaxado e, vamos que vamos, que a vacina breve, chegará.

                                 Abraço bem forte, de forma virtual e de amizade, para todos. 




                             


       

       
                                                                     

                            

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